O Cerrado é um bioma rico não apenas em biodiversidade, mas também em cultura popular. Suas plantas, muitas delas de uso medicinal ou sagrado, carregam histórias transmitidas de geração em geração. Cada folha, fruto ou raiz pode esconder uma lenda que revela como as comunidades tradicionais interpretam a natureza — e como a própria paisagem do Cerrado inspirou mistérios, rituais e crenças profundamente enraizadas.
Uma das histórias mais conhecidas envolve o barbatimão (Stryphnodendron adstringens). Na tradição popular, acredita-se que a árvore possui “força de mulher”, pois seus usos medicinais sempre estiveram ligados à cura de feridas, ao cuidado da pele e ao tratamento feminino. Para os povos mais antigos, ela teria sido presente dos espíritos protetores às curandeiras do Cerrado, que eram responsáveis por guardar segredos de cura.
O pequi, fruto símbolo da região, também é protagonista de diversas narrativas. Diz a lenda que o pequi nasceu de uma promessa feita pelos antigos guerreiros: plantar uma árvore que garantisse força, fôlego e resistência aos viajantes que cruzassem os campos abertos. Seu aroma forte seria um aviso da natureza para manuseá-lo com respeito, reforçando sua importância sagrada.
Outra planta envolta em mistério é o jatobá (Hymenaea courbaril). As comunidades tradicionais contam que seu tronco robusto é protegido por um “guardião invisível”, um espírito que cuida das matas do Cerrado. Acredita-se que derrubar um jatobá sem permissão espiritual traria azar e doenças. Isso fez com que a árvore se tornasse símbolo de proteção, longevidade e sabedoria.
O araticum, conhecido pelo perfume intenso da fruta, também aparece em histórias sobre encantamento. Algumas aldeias contam que, ao florescer, o araticum atrai seres luminosos, pequenos espíritos do campo responsáveis por fertilizar o solo e proteger os animais da região. Para muitos, seu cheiro adocicado seria um chamado desses guardiões.
Essas lendas não apenas encantam — elas preservam memórias e reforçam a relação profunda entre as pessoas e a vegetação do Cerrado. Cada história funciona como uma lembrança de que o bioma só permanece vivo quando respeitamos suas plantas, seus ciclos e seus saberes ancestrais. Valorizar essas narrativas é também valorizar o território, a cultura e a natureza que fazem de Brasília e seu entorno lugares únicos.
Fonte: Verdejando BSB

